A menina da Flauta






Era manhã, eu caminhava como de costume, por entre as ruelas da Roma de 83, carregando comigo minha flauta, adorava as aulas da senhora Pitsburg. Sempre andava olhando tudo a minha volta, a cidade do Vaticano era linda. A cada manhã eu descobria algo diferente, pegava caminhos diferentes, esta manhã não foi diferente, virei por um beco a qual eu sempre evitava, só homens entravam lá, sempre fiquei curiosa, na entrada do beco um homem de preto sempre ficava parado, às vezes ele parava duas ou três ruelas antes. Ele me olhava acenava com a cabeça e eu seguia meu caminho, confesso que muitas vezes com um pouco de medo.

Amorth era o nome dele, eu escutei umas duas ou três vezes chamarem ele de dentro do beco escuro. Ouvira falar que ele era um exorcista, mas acho que não era verdade. Os exorcistas nunca saiam de dentro da basílica do vaticano. Nesta manhã foi diferente, eu acenei com a cabeça e ele levemente acenou para que eu me aproxima-se. “Olá.” Eu disse. “Você não deveria andar por aqui garota” Disse o rapaz. Ma quase não escutei o que ele dizia, pela primeira vez vi o rosto dele que antes estava coberto por um longo e negro capuz. Seus olhos eram penetrantes e mais azuis que o céu em veraneio, mas era diferente, era como se eu o conhecesse. “GAROTA”. Ele gritou, eu olhei assustada. “ Você esta atrasada”. Rapidamente me virei e continuei meu caminho, percebi que o homem estava vindo em minha direção com um olhar diferente. Comecei andar mais rápido, mas o homem continuava a me seguir, desesperada, corri o mais rápido que pude até um local seguro. Virei-me para ver, e ele já havia desaparecido.

Cheguei à aula da senhora Pitsburg, hoje aprenderíamos a tocar a nona sinfonia, mal consegui prestar atenção na aula, lembrava daqueles penetrantes olhos azuis, daquela silhueta negra correndo atrás de mim pelos becos. ”Senhora Razlea, preste atenção na aula”. Voltei a tocar. No meio da melodia estranhamente ouvi outra melodia, uma musica suave, envolvente, tão calma que parei de tocar para ouvi-la, esqueci de tudo a minha volta. “Senhora Razlea, a aula já acabou”. Pisquei meus olhos rapidamente e percebi que todos saiam da sala me olhando estranho. ­“Meus parabéns Patricia, você tocou muito bem hoje.” Olhei para ela com cara de espanto, eu não lembro nem mesmo de ter colocado a flauta na boca ,quem dirá tocá-la. Mas, mesmo encabulada guardei minhas coisas e sai apressadamente estava voltando para casa. Cheguei e percebi que as coisas estavam normais. Decidi fazer um caminho diferente. Mas acabei encontrando o tal homem novamente. Mas o que ele estaria fazendo ali? Estaria me seguindo? Não, não, isso era totalmente estúpido, talvez seja apenas coincidência. Mas tudo mudou quando ele me chamou. “Ei menina?!”. Senti um grande frio. Ele estava realmente falando comigo? “Sim, você, pode esperar um minuto?” Ele disse como se tivesse lido minha mente. Por algum motivo, me virei para ver. Ele era magro, seu cabelo era escuro e levemente ondulado. "O que estou fazendo parada aqui?"- pensei.

Minha mente dizia para correr, mas meu corpo estava paralisado, não conseguia fazer movimento algum. Naquele momento tudo escureceu. Acordei alguns minutos depois sendo carregada, não conseguia ver nada, algo tapava minha visão, era um pano negro. Depois de minutos sendo carregada, vi luzes através do pano. Eram velas! Senti me jogaram em cima de alguma coisa, pegaram meus braços e pernas e amarraram contra a superfície áspera e gélida, tive uma cegueira momentânea ao tirarem de meus olhos o pano negro que os cobria, esperei uns segundos e observei a penumbra havia muitas pessoas olhando pra mim, todas de negro encapuzadas da cabeça aos pés, eu tentei me soltar e gritar, mas de nada adiantou.

Eu era como um peixe no aquário, um homem chegou perto de mim, mas mesmo com o capuz pude reconhecê-lo, era Amorth. “O que faremos com ela Padre?” Disse uma voz seca e ríspida vindo por de trás de mim. Ele me olhou nos olhos, pude sentir algo diferente, um brilho uma mensagem. “O mesmo das outras”. Neste momento ele se virou e a enorme superfície se moveu. Só parou em frente a um enorme espelho, agora pude ver que estava em uma mesa redonda, com pentagramas desenhados. Olhei meu reflexo, ele não era o mesmo, enquanto eu me debatia e tentava fugir, ele estava lá, quieto imóvel, observando. Assustei-me mais ainda.

Agora dois homens estavam ao meu lado, como médicos, mas de preto. Um deles levantou enormes agulhas, e começou a limpá-las, enquanto o outro destampava uma bandeja, onde estavam dois ratos, o chiar dos dois, ainda esta marcado na minha alma, o homem da direita pegou os ratos e colocou em cima da minha barriga eu me olhava no espelho e só via eu mesma parada, olhando, nada de gritos, nada de agonia, aquilo não poderia ser eu! O homem pegou a tampa que antes estava na mesa guardando os ratos e colocou sobre minha barriga sufocando o roedor, pude senti-lo arranhar minha pele, gritei, mas em vão, ele pegou um pequeno maçarico e ateou fogo contra a tampa da bandeja, o ser na minha pela, não tinha para onde ir a não ser para baixo, o sentiele rasgando minha pele, meu sangue escorrendo, via somente os filetes através do espelho, mais nada, era meu fim, quando estava prestes a cair,ele retirou o pobre animal de cima de mim, mas o da esquerda, agora mais perto pegou a agulha e atravessou minha garganta gritei, já era tarde.

Vi meu corpo lá em baixo, inerte. Todos olhavam fixamente para o espelho agora. Esperando algo acontecer, Talvez se saísse e buscasse ajuda... Mas estava morta. Procurei uma saída, esquecendo que eu agora poderia passar por onde quisesse, quando me dei conta estava atravessando a porta principal. Estávamos na Basílica, o beco então dava acesso a ela. Senti meu espírito sendo puxado, eu estava sumindo... Corri para a direção oposta, mas nada adiantou, pisquei e quando olhei de novo estava em frente ao espelho, ali parada, sozinha observando meu corpo agora sem reflexo, vi crianças através do espelho, ouvi vozes, mas atrás do espelho estava Amorth, ele olhou fixamente para mim como se pudesse me ver, e em seus olhos o vi sinalizar para que eu saísse dali. Corri atravessei as paredes, cheguei ao beco.

Não sabia pra onde devia ir, olhei e simplesmente segui o caminho que fazia todas as manhãs, algo me seguia, pude sentir isso, ao me virar vi uma imensa massa negra, era uma menina, me seguindo,tinha que correr mais rápido, eu consegui ver ao longe, a escola da senhora Pitsburg, sem hesitar entrei, estava tudo vazio. Olhei mas uma vez para me certificar que ninguém estava lá. Mesmo sabendo que ninguém me veria mesmo. Passaram se algumas horas, eu vi Amorth entrar, ele me olhou. “Eu disse que você não deveria estar ali Elisabeth”. Elisabeth, quem era Elisabeth? “Meu nome é Patricia” Gritei sem sucesso. “Venha até mim, Elisabeth”. Escutei a mesma melodia de mais cedo, era como se estivesse hipnotizada. Mesmo sabendo que eu não era essa Elisabeth, eu caminhei, ele me abraçou encostou a cabeça em meu ombro e colocou os lábios próximos a meu ouvido. “Agora sua alma será minha, para SEMPRE.” Amorth se dissipou e virou uma esfera negra, agora eu estava dentro dela. Fechei os olhos.

Quando abri, vi os sons noturnos vindos da janela aberta, estava suando frio, minhas roupas de cama estavam molhadas, agarrei meu lençol, olhei em volta, não havia nada. Tudo não passava de um terrível pesadelo. O dia amanheceu normalmente, peguei minhas coisas e sai, fui a aula da senhora Pitsburg, mas meu pesadelo não saia da cabeça. Foi tão real. “Bom dia, você poderia me informar onde fica a basílica do Vaticano, por favor, sou novo padre e preciso encontrá-la” Disse uma voz atrás de mim, me virei para responder. “Fica entrando naquele beco ali a...” Fui interrompida, ao ver o rosto do rapaz, era ele Amorth, ali parado na minha frente... Sem hesitar corri. E nunca mais voltei aquele lugar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ficou muito bom hein, realmente você tem ideias brilhantes (:

Julia disse...

Incrível e super bem escrito

Carol disse...

Excelente, Max!

Pude sentir a agonia da Patricia, e fiquei tão aliviada quanto ela ao vê-la acordar!

Muito bom!
Acho que esse, sim, é o seu melhor gênero textual!
Vai fundo!!!

Beijão!
www.sonhosdescritos.blogspot.com

Maxwell Candido disse...

Muito obrigado Carolzinha sua linda... sua opinião é muito bem vinda por aqui fique livre para explorar em breve vai ter uma bandeira do seu blog aqui ....

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