Aos apaixonados – Por Cássia Oliveira - Ensaio vencedor

Olá Pessoal , ando meio perdido com a nova correia de trabalho, e com todos os novos afazeres, mas claro que sempre tenho tempo para autores maravilhosos, já falei aqui no blog da Cássia Oliveira, autora do livro "Segredos da conquista" (você pode ler a resenha aqui). E esta semana andei zapeando na net e a encontrei nas redes, em uma conversa a autora (que por sinal é maravilhosamente atenciosa e linda) me passou o texto em reprodução a seguir. Vencedor dos mais lidos da UBE-Goias (União Brasileira de Escritores). Mas Antes de Ler o Texto vamos relembrar rapidamente quem é esta pessoa linda, que se denomina Cássia Oliveira:







Cássia Oliveira é Psicóloga, especialista em Neuropsicologia, Psicodiagnóstico Rorschach e outras técnicas projetivas, Psicologia jurídica, Perita forense, Perita examinadora de trânsito. Diretora da UBE(união brasileira de escritores), Psicoterapeuta e Escritora. Email: conscienciaemocional@hotmail.com








Agora Segue a Reprodução direta do Ensaio de Cássia:

Aos apaixonados – Por Cássia Oliveira



"A paixão não foi feita pra ficar, mas fertiliza a vida e faz o mundo florescer enquanto passa."


É inútil falar aos apaixonados. A Paixão, experiência insuperável de dor e prazer, coloca os apaixonados fora dos limites da razão. É algo súbito, imprevisível, prepotência do destino sobre a liberdade e responsabilidade individual. Na paixão, a primeira experiência é a percepção de um impedimento: algo dentro de nós nos diz que estamos nos aventurando em terreno que não é o nosso. Porém, a percepção da proibição vem acompanhada da sensação de ter a coragem de infringi-la. A paixão está inserida entre as mais significativas dimensões da existência humana. É a que melhor exprime as ambivalências das diversas experiências pessoais, já que a interioridade, a individualidade, o imaginário, os sentimentos, o psiquismo e a corporeidade entre duas pessoas estão intensamente envolvidos. Essas contradições da realidade psíquica se traduzem em sofrimentos da alma e despertam sensações profundamente ambíguas: de presença e ausência, de força e vulnerabilidade, de fantasia e realidade, onde esta última deve acertar contas com o imaginário dos nossos desejos. É quando também luz e sombra, êxtase e abismo, integram o sentido da existência humana, caracterizada pela insatisfação, pelo senso de solidão, pela nostalgia, pelo desejo de completude.
Essas contradições nos confrontam com o mistério desse sentimento e com a sua pretensão de perfeição e eternidade, onde o apaixonado está convicto de haver encontrado a única pessoa capaz de satisfazer seus desejos. Daí a necessidade de idealizar a pessoa amada, de idolatrá-la, de torná-la o suporte do nosso imaginário, com a conseqüência inevitável da desilusão quando a realidade se faz presente de maneira despojada da nossa fantasia. Quando nos apaixonamos embarcamos numa viagem misteriosa, onde nos encontramos no silêncio de um labiríntico mundo imaginário, um empreendimento louco, inexplicável, cheio de medo, onde um encontra o outro, e por trás do outro, a si mesmo. Na dimensão da paixão, a imagem que está diante de nós - e que destrói ou exalta nossa vida - se torna imprescindível como uma droga. Esta imagem sedutora se torna a compreensão do nosso agir pessoal, porque é quando não existe mais ninguém e o outro passa a ser algo que ativa nosso mundo sob o estímulo das nossas necessidades. Por isso é difícil se afastar do fascínio dessa situação, porque nela se insere uma necessidade própria oculta, uma força e impetuosidade enormes, um forte poder subversivo que impele a ser vivido até as extremas consequências. É uma dimensão complexa, já que estar apaixonado significa andar fora de rota, ser desviado. 
Todo mundo sabe que paixão não satisfeita dói. Mas poucos sabem que a paixão só existe se não for satisfeita. A paixão é um desejo de posse que, para existir, não pode se realizar. Ela só floresce na ausência do objeto amado. O amor excita o medo, porque o que o outro representa vai sendo continuamente interpretado; e essa dimensão é um estado infinito, porque a interpretação total seria o fim dessa exuberante força que o estimula para o outro. Por isso o que mantém acesa a chama é o mistério. O que tem realmente poder de fascinação e que desperta interesse prepotente e devastador é o fato da sedução como interrogação: eu me faço perguntas angustiantes porque a imagem do outro com sua presença inquietante não se deixa ser compreendido plenamente. O encantamento vivenciado provém exatamente do que está oculto, do mistério, da sensação de que a pessoa diante da qual nos encontramos é um mundo a ser descoberto, uma grande incógnita, uma aventura inesgotável. No fundo toda sedução está ligada à inatingibilidade daquilo que seduz: somos sedutores quando não podemos ser captados. Permanecemos sedutores enquanto nos deixamos adivinhar, enquanto não falamos ou enquanto nossas palavras são enigmáticas e devem ser interpretadas.Só nos interessamos por alguém que ativa em nós interrogações e abre dúvidas dilacerantes, deixando sempre perguntas e questões em aberto. É como um enigma a ser resolvido, que nos leva a ser dominados por uma angústia e desespero que se torna quase uma obsessão. Esse sofrimento físico só poderá ser eliminado com a presença da pessoa ativadora de tais interrogações.
Esta solicitação subliminar tem fundamentos regressivos, na esperança ilusória do alivio que vem do outro. A voz, o diálogo secreto dos olhares, o perfume, o modo de andar ou aquele gesto tão sedutor, podem ser fontes de sedução enquanto o outro tem uma imagem vaga que remete a significados ocultos que desafiam ser revelados. A paixão, como o amor, vive do segredo, da necessidade sempre renovada de descobrir o sentido fugaz de algo que continua escondido, entre a presença e a dor da ausência. Não se trata da ausência física. A dor da ausência física tem o nome de saudade. A saudade é curada quando o objeto volta. A dor da paixão é diferente. Ela dói mesmo na presença do amado. Como se pode sentir saudade de algo que está presente? É simples, sentimos saudades de uma pessoa presente quando ela está se despedindo. O que caracteriza o olhar apaixonado é que ele percebe, no rosto da pessoa amada, essa ausência que se anuncia e essa despedida pronta a cumprir-se. O apaixonado pensa que sua paixão tem a ver com o objeto. Ele não sabe que sua paixão mora no olhar. A dor da paixão é esta: o apaixonado deseja possuir o objeto do seu amor, mas ele escapa sempre. Por isso ele sofre. Movido pela dor, quer possuí-lo. Não sabe que, para que sua paixão continue a existir, é preciso que ele continue escapando sempre. A paixão só ama objetos livres como os pássaros em vôo.A dor da paixão não satisfeita é iluminada por uma alegria. O apaixonado vive na esperança de que um dia ele possuirá o objeto de sua paixão. Mas a dor é ainda muito maior da paixão satisfeita, pois não há mais esperanças. O objeto se desfez. Ela vive na tristeza do objeto perdido. 
Diferença entre Paixão e Amor:
A diferença fundamental entre a paixão e o amor está no fato de que no amor consolidado a relação se baseia no reconhecimento realista do outro e na aceitação da separação, na renúncia à totalidade da relação. É o renunciar ao mito, sair da simbiose. O amor verdadeiro se alimenta de complacência, aceitação e liberdade e não de expectativa, apego e vontade de controlar o outro.É também a consciência e aceitação de que não temos posse do outro. No amor a ausência e a presença são elementos condutores de toda relação e, para poder aceitar a distância, cada um compreende que o próprio desejo tem a ver, sobretudo com a própria imaginação. Chega-se a conclusão de que, para poder aceitar a ausência, deve-se ter interiorizado o outro. No amor, o outro não é nunca um objeto, mas sim um indivíduo. Na relação amorosa é visível à relação entre duas individualidades que se encontram e se reconhecem como tais, graças ao espaço criado pela relação. 

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