"Devore-me", Redação vencedora do 7º Concurso Cultural: Ler e Escrever é Preciso , desenvolvido Pela Ecofuturo!


Livro com a publicação dos textos vencedores

Devore-me

“A visão do rosto dela... Com a fragrância enlouquecedora de comida, focaram nele emoções fortíssimas de ternura e fome, emoções indescritíveis”



Foi assim que os vi nesta cena quase Hollywoodiana, pareciam esquecer o mundo a sua volta, como se não houvesse ninguém, como se aquele instante fosse o último, assim em meio à metrópole, como se não houvesse problemas existentes na face da terra.
Ele, com trajes esporte, aparentemente simples, ela com um vestido simples, azulado, ambos se olhavam por vários momentos, só sendo distraídos por uma barraca de hot-dog, que subitamente entrou na frente dos dois. Ele discretamente deixou-se distrair pelo cheiro inevitável da comida, estampando em sua face à vontade de comer, mas nada tirava mais sua atenção que a beleza de sua amada.
Ele estampava em sua face dois únicos desejos, a sua insaciável fome e a vontade de beijá-la, o que falava bem mais alto que suas necessidades biológicas, os olhos exalavam sua louca vontade de agarrá-la, e envolve-la com seus braços na trama ardente que é o amor, E ao mesmo tempo de acabar de vez com a louca fome que o atormentara.
É assim, a mulher o espera imóvel, como uma mosca aguarda seu fim diante da tão temida aranha. E ele assim se aproxima, calculando cada movimento, cada passo, cada palavra. Fome! Voltava a lembrar de suas mais primitivas necessidades.
O cheiro do carrinho de hot-dog ao lado, subia como uma sinfonia aos ouvidos de Beethoven, em meio a todos as outras fragrâncias, nem sempre muito aceitáveis, num lance rápido, surge uma idéia, uma chance para a conquista, coloca a mão no bolso, retira em um movimento duas notas ligeiramente amassadas. Um pedido. Uma cena tipicamente americana em meio à metrópole bem mais que brasileira, espremendo-se, e lutando por um local mais “livre” dentre a imensa multidão.
“– Um completo, por favor?” Disse o rapaz, acenando logo em seguida com a cabeça, pegando seu pedido e indo confiante em direção a ela; Silêncio; Coração acelera; Ele chega perto. As palavras somem; Mais um aceno. Na cabeça correm rápido todas as suas estratégias que subitamente somem, desaparecem, mas voltam como um “Dejá vu”.
Olá?!” Disse ele em direção a ela, que afoita, se embaraçou, e com um jogar de cabelos, respondeu um singelo, porém, belo: “–Oi!”. Ambos desconcertados com a presença alheia.
“– Eu trouxe para você.” Disse ele entregando-lhe, um singelo pão de centeio, cortado em duas fatias, com condimentos e uma imensa e gordurosa salsicha, mas, que naquele momento só teria um único significado: Ele a quer, mas será que ela quer mesmo?
“– Obrigado! Ainda se lembra dos meus gostos.” Disse ela com um sorriso no canto dos lábios. “– É. Ainda me lembro bem do seu gosto.” Agora ele quem diz com um malicioso olhar; Fome; Mais uma vez o seu Eu primitivo o lembrava de sua necessidade. Mas agora ele só pensava em cortejá-la.
“– Eu Te amo!” Ela disse subitamente, abraçando-o, ele inerte, sem fala, e ainda com fome, balbuciando, únicas, porém, duas palavras: “– Me beije.” Foi fatal para saciar-lhe o desejo, mas talvez não sua fome.
E assim da mesma forma que cheguei, vi o movimento da cena, era o ônibus, andando, o sinal abriu. Escuto o barulhento som do motor; Buzinas; despedia-me daquela cena do “belo amor de momento” – Assim como apelidei – passando lentamente pelos meus olhos, como as nuvens cortam o céu. E fui retornando minha vida com a cena “Shakespeariana” mais brasileira que já vi.

Imagem:
“Bairro da Liberdade, o farol para, em meio todas as distrações que posso observar da janela de um ônibus me surpreendo com um casal, aparentemente desconhecidos, que nos surpreende, com esta bela cena de amor, Ele, classe media, que nos parece afoito pela fome, que prefere dar de comer a sua amada a matar sua própria fome”

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